Diz aí, Vitor Vogel! 292856

"O comunista é tudo aquilo que eu não gosto" 4s3g44

Vitor Vogel, do canal “Vogalizando a história”, participou do programa Diz aí!, com as jornalistas Fran Marcon e Ana Lúcia. Ele falou sobre comunismo, história do Brasil e da região. 1j6w25

(foto: Fran Marcon)
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Numa era em que os fatos importam menos do que as crenças, como o senhor conquistou 2 milhões de seguidores num podcast sobre história?

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Vitor: Eu produzo o Vogalizando desde 2019, junto com meu sócio, o Marco Viricimo. O Marco já trabalhava com produção de conteúdo na época. Ele já veio com um projeto ...

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Vitor: Eu produzo o Vogalizando desde 2019, junto com meu sócio, o Marco Viricimo. O Marco já trabalhava com produção de conteúdo na época. Ele já veio com um projeto muito bem definido, vídeos que iam sair pontualmente, no mesmo dia, na mesma semana. A gente já tinha uma ideia de como o conteúdo ia se desenrolar. Arriscamos muito pouco. Mantivemos constância. Ouvíamos o que o público queria de tema. Até que caímos na graça do algoritmo e do público. Levou uns dois anos com pouquíssimas pessoas consumindo o nosso trabalho. Até que, em algum momento, um vídeo performou muito bem. As pessoas foram vendo os outros vídeos do canal e acabaram gostando. O que a gente fez de diferente a gente também não sabe dizer, mas se fosse apostar em alguma coisa, seria naquele tom de leveza que o canal tem. Muitas imagens humorísticas aparecendo. Interações entre o Marco e eu no meio do vídeo, mas também a seriedade na pesquisa, fazendo um trabalho histórico bem apurado. [Qual o vídeo que foi o despertar?] A gente fez um vídeo explicando a diferença entre a Inglaterra, a Grã-Bretanha e o Reino Unido. A gente tinha 11 mil inscritos na época. No fim de setembro a gente já tinha 100 mil. A gente foi destaque do dia no YouTube Brasil. Nós e a Luísa Sonza no mesmo dia. A gente teve uma visibilidade bem grande a partir desse vídeo. O canal nunca mais parou de crescer. Esse vídeo abriu muitas portas.

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O vereador mais votado de BC, Jair Renan, filho de Bolsonaro, disse que a ditadura militar foi a melhor época do Brasil. Como explicar historicamente que essa afirmação é totalmente equivocada?

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Vitor: Quando a gente estuda a teoria histórica, estuda muito história e memória. É muito comum ouvir de pessoas mais velhas: “naquele tempo é que era bom”. “Naquela época se fazia música de verdade”. “Naquela época as coisas funcionavam”. Tem textos do Platão falando isso, que as gerações mais jovens não querem trabalhar, que os mais jovens não respeitam os mais velhos, milhares de anos atrás. É muito comum que as pessoas tenham um saudosismo do ado. A memória acaba não sendo confiável. As pessoas tendem a romantizar muito o ado. Tem saudade de quando elas eram jovens. As pessoas acabam esquecendo tudo o que cercava elas naquele momento. Alguém fala da ditadura como o melhor período, mas não lembra da hiperinflação, que foi nos anos 80. Não vai lembrar, por exemplo, que havia censura dentro dos meios de comunicação. Abria o jornal antigamente e não tinha uma denúncia de corrupção, porque não podia aparecer. Muitas vezes as pessoas confiam na memória em vez de confiar nos registros dos fatos. Os registros são importantes para que a gente relembre de fato como é e não só confie no nosso sentimento. A verdade não é o que eu quero que seja. Eu queria que aquele período fosse visto como bom, mas não importa o que você quer. A história mexe muito com as pessoas, porque ela tira as pessoas do senso comum. Essa fala do Jair é só uma repetição de alguma coisa que ele ouviu de alguém. Mas ele não parece ser uma pessoa que de fato estudou muito a história para dar as opiniões que ele dá. Nessa fala, inclusive, você vê que ele improvisou muita coisa. Ele não está preparado para fazer uma fala daquela. É o tipo de coisa que a gente tem que ouvir por um lado, sair pelo outro, e lembrar daqui a quatro anos que não é esse tipo de representante que a cidade precisa.

"A história mexe muito com as pessoas, porque ela tira as pessoas do senso comum" (Foto: Fran Marcon)

 

Morreu Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, uma das vítimas da ditadura e, sobretudo, um humanista. Qual a importância histórica dele?

Vitor: O Mujica é um dos grandes sul-americanos que já existiu. Ele se envolveu com a luta armada, combateu a ditadura uruguaia, foi preso e torturado. Era usado como uma espécie de moeda de troca. Não foi morto muito por conta da importância que ele tinha para os setores de esquerda do Uruguai na época. Com a redemocratização do Uruguai, entrou na cena política e teve uma carreira deslumbrante, sendo também o presidente do país e defendendo pautas progressistas que são apoiadas amplamente até hoje. Mais do que só um presidente ele vivia, de fato, conforme aquilo que ele pregava, não era um hipócrita. Ele é visto como um político como a gente queria que os políticos fossem: um cara que vive aquilo que ele faz. Não só alguém que fala da boca pra fora pra viralizar no Instagram, pra fazer videozinho pra conquistar voto. A importância do Mujica para política é esse símbolo de como um político tem que ser, independentemente da esquerda ou da direita.

 

“Os registros são importantes para que a gente relembre de fato como é e não só confie no nosso sentimento. A verdade não é o que eu quero que seja”

 

A eleição de Donald Trump também pode ser historicamente explicada? O que o fez ser presidente da maior potência mundial pela segunda vez?

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Vitor: Isso é uma coisa que eu queria entender. Todo mundo já ouviu histórias de alguém que voltou com um ex que fez muito mal. É mais ou menos o mesmo que aconteceu com os Estados Unidos. Eles voltaram com o seu ex maluco. Mas a economia dos Estados Unidos, apesar de ter ido bem na época do Joe Biden, sofria muito com a inflação e a alta de preços. Há um sentimento dentro de boa parte do povo americano, principalmente no Centro da Ferrugem, e boa parte da região da Flórida, por exemplo, os estados mais conservadores, de que a essência do país está se perdendo. A gente só vai conseguir isso de volta se tiver um nome forte, nacionalista, que coloque os Estados Unidos em primeiro lugar. O Donald Trump é um cara que sabe usar as redes sociais.

 

"O cristianismo é tão brasileiro quanto as religiões de matriz africana”

 

O que está acontecendo em Gaza é genocídio?

Vitor: Eu acredito. Eu acho que o que acontece na Palestina hoje em dia é programado, é calculado, é uma invasão que há uma justificativa por trás que eu acho que não se sustenta contra um povo que não tem armas e usando o terror como justificativa. Tem um vídeo que saiu no canal do New York Times não faz muito tempo, que é como soldados israelenses mataram médicos que atuavam na faixa de Gaza. O mundo vai lembrar no futuro da nossa indiferença a esse povo que morreu e das nossas falas não dando importância para o que tem acontecido na faixa de Gaza, das ações de Israel. 

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“A importância do Mujica para política é esse símbolo de como um político tem que ser independentemente da esquerda e da direita”

 

O crescimento econômico estagnado da Europa reacende a discussão sobre migração, direitos sociais, desemprego e outras tantas que dão gás à xenofobia e à pauta da extrema direita. O que pode acontecer nesse cenário?

Vitor: Se eu fosse apostar em alguma coisa, diria o isolacionismo de muitos países. O pós-Segunda Guerra Mundial foi um período de muita cooperação entre os países; a criação da ONU, blocos econômicos, ajuda financeira, reconstrução e uma ideia de que o mundo precisa se unir para viver em paz. A gente vê, por exemplo, países deixando grupos econômicos que fazem parte. Como resultado muitos partidos extremistas vêm crescendo, apostando nessa ideia de soluções simples: “Galera, faz o seguinte, vota em mim que eu vou resolver os problemas”. Isso não deu certo no ado. Não dará certo nesse momento. Mas o extremismo toca no sentimento das pessoas. As pessoas não querem de fato ouvir que a gente tem que ouvir o outro, cooperar para resolver problemas, que a gente tem que ser legal um com o outro. É muito mais fácil dizer que eu vou destruir os meus inimigos. Muita gente ainda acredita que um herói irá salvá-los. Mas isso é uma ilusão muito grande.

 

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“O Donald Trump é um cara que sabe usar as redes sociais”

 

Um terreiro de umbanda em Barra Velha recebeu uma carta com ameaça de destruição, assinada pelo “Partido Nacional Integralista dos Trabalhadores Brasileiros”. O senhor pode explicar o que foi o movimento integralista?

Vitor: O movimento integralista foi muito popular na década de 30 no Brasil, com o Plínio Salgado. O Plínio se apaixonou pelo fascismo italiano do Benito Mussolini. Em grande resumo, o fascismo vem de fachos, uma ideia de união e de trazer um ado heroico de volta, reviver o império romano, conquistas de territórios. Muito inspirado nessa ideia nacionalista, o Plínio Salgado criou o Movimento Integralista Brasileiro que precisava mudar. Heróis nacionalistas não queriam mais o Papai Noel, ia ser o Vovô Índio. O cara tinha essa ideia de “fascismo nos trópicos”. É assim que o movimento integralista é conhecido. Dentro dos fascismos, a gente vê o nazismo. Dessa ideia de conquista, dessa ideia nacionalista de nosso país acima de tudo... Quando o movimento integralista faz isso em Barra Velha, de que somos uma sociedade cristã, temos que expulsar essas religiões de matriz africana, é uma falta de reconhecimento de que essa religião também é muito brasileira. O cristianismo é tão brasileiro quanto as religiões de matriz africana.

O senhor poderia explicar o que é o capitalismo, o socialismo e o comunismo?

Vitor: Não há muita vontade de se explicar essas coisas. O sistema capitalista é baseado em propriedade privada, lucro. Isso não quer dizer que é errado. O que eu quero dizer é que eu não estou defendendo que um é certo e que o outro é errado. São visões políticas que existiram. Há experiências de sucesso e de fracasso em ambos os casos. Mas, de forma geral, o socialismo é um caminho para o comunismo, onde não haverá mais instituições privadas, onde os meios de produção são istrados pelo próprio povo. Em muitos lugares do mundo não se separa esquerda e direita, quando alguém defende que os homens não podem bater nas suas esposas, por exemplo. Isso é uma questão humana. Não é uma questão de direita ou de esquerda. Quando a gente defende, por exemplo, que teve escravidão e que a escravidão foi muito ruim e alimentou o racismo do Brasil. “Ah, o cara fala isso porque ele é comunista”. O comunista é tudo aquilo que eu não gosto. E não é de agora. O próprio Juscelino Kubitschek foi tachado de comunista na época, mas ele nunca chegou perto disso. O Kubitschek apoiava as empresas privadas. [...] Se é meu inimigo, é comunista. Se não defende o que eu defendo, é comunista. [...] O Brasil nunca chegou perto de ser um país socialista. O comunismo nunca foi uma ameaça para o nosso país.

"A história mexe muito com as pessoas, porque ela tira as pessoas do senso comum"

Como o senhor acredita que a trama golpista de 8 de janeiro de 2022 ficará conhecida na história?

Vitor: Como um bando de maluco. A gente vai olhar para o patriota do caminhão e pensar como é que alguém fez uma coisa dessa?! Aquela senhora suada saindo do banheiro e xingando todo mundo... A intenção dos caras era causar uma revolta tão grande a ponto de que o exército fizesse uma intervenção e depois assumisse o controle do Brasil. A intenção era essa, mas saíram já notícias, por exemplo, do pessoal que causou essa revolta, chamavam de “Festa da Selma”, de que os caras que criavam as notícias falsas diziam: “agora manda para os malucos”. Mesmo quem tentou causar isso aí achava essa galera uns malucos. [Mas tem uma investigação da PF, do MPF, não tem só maluco...] Foram os caras que se der errado, esses vão para a Papuda. A gente vê, por exemplo, aquela mulher que escreveu com batom na estátua: “Nossa, estão prendendo ela porque escreveu com batom...”. Não, estão prendendo por associação criminosa. Há toda uma máquina de desinformação, de distorção de fatos que muita gente ainda cai, muita gente ainda alimenta. Tem gente poderosa que está por trás, que está financiando.

Itajaí completa 165 anos. O senhor pode citar um fato histórico que marcou nossa história?

Vitor: Pouca gente sabe quem foi o Marcílio Dias, o marinheiro que atuou na guerra do Paraguai e durante a batalha do Riachuelo. Ele teve um braço decepado, mas defendeu a bandeira nacional e conseguiu impedir que os paraguaios que invadiram o barco tomassem a bandeira. Ele foi sepultado no Riachuelo, mas tornou-se um herói nacional. Nosso clube leva muito o nome desse herói nacional para frente. Localmente, a gente tem a história do Odílio Garcia, que durante o incêndio que aconteceu na estação de gás, o cara entrar lá dentro, desligar as válvulas, impedir que o fogo se espalhasse e acabar morrendo.




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